Exigências atuais são as mesmas para esses
estabelecimentos e para boates; ideia é ter regra intermediária
ANA PAULA PEDROSA
RAFAELA MANSUR
Ação. Desde o último dia 20, oito fiscais da Regional Nordeste fazem operação para cumprimento da Lei do Silêncio na rua Alberto Cintra |
Os empresários de bares e de restaurantes querem modificar a
lei que estabelece regras para música ao vivo ou som mecânico em Belo
Horizonte. Considerada inviável pelo setor, a legislação atual faz as mesmas
exigências de uma casa de shows ou boate a um bar que tenha um cantor com
violão.
“Buscamos um licenciamento diferenciado porque, para os
bares, a música não é atividade-fim, é complementar”, explicou o presidente da
Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel-MG),
Ricardo Rodrigues. Ele disse que mesmo não sendo atividade-fim, para alguns
estabelecimentos, a música é “questão de sobrevivência”. As conversas da
entidade com o Conselho Municipal de Política Urbana (Compur) estão em fase
inicial, e não foram definidas quais seriam as exigências desse licenciamento
intermediário.
Hoje, de acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), para obter o Alvará
de Localização e Funcionamento (ALF) com música, o estabelecimento precisa
atender uma série de exigências, como fazer um Estudo de Impacto de Vizinhança
(EIV), tratamento acústico, apresentar laudo técnico do sistema de prevenção e
combate a incêndio e pânico, entre outros.
Conforme um engenheiro ambiental, que não quis ser identificado, somente a
elaboração do EIV custa entre R$ 9.000 e R$ 12 mil. Ele afirmou que o
levantamento é exigido, geralmente, em espaços com mais de 360 m². “É um estudo
bastante complexo, que envolve profissionais de diversas áreas, como arquiteto,
engenheiro civil e engenheiro ambiental, com o objetivo de identificar todos os
impactos do empreendimento, como no trânsito e nos ruídos”. Segundo ele, o
estudo demanda cerca de 60 dias para ser elaborado, mas o processo para obter o
alvará costuma demorar quase um ano.
Polêmica. Na última semana, donos e gestores de bares de Belo
Horizonte reclamaram que perderam seus alvarás para música em razão de uma
mudança na legislação. No Santo Boteco, no bairro São Pedro, na região
Centro-Sul, as apresentações que aconteciam às quintas-feiras e aos sábados
foram suspensas. A gerente do local, Aline Soares, informou que a renovação era
periódica, mas, na última tentativa, o pedido foi negado. Ela disse que
precisaria investir R$ 80 mil para ter o ALF.
O Redentor, no bairro Funcionários, na mesma região, tem música às
segundas-feiras e também não conseguiu renovar o alvará. O gerente Eduardo
Verônica ponderou que a licença era renovada mensalmente há mais de um ano.
A Secretaria Municipal de Serviços Urbanos negou que tenha havido mudança na
lei e informou que existe apenas o ALF ou alvarás para eventos esporádicos, com
data e hora determinadas. A questão, segundo a pasta, é que alguns locais
usavam essas autorizações específicas para justificar as constantes
apresentações, e eles não têm todas as exigências para obtenção do ALF.
O presidente da Abrasel reconheceu essa prática em alguns locais. “Existe
alvará para evento específico, e muitos usam o mesmo documento (alvará) depois
do evento”, disse Rodrigues.
“Para os bares, a música não
é atividade-fim, é complementar. As exigências têm que ser diferentes das
feitas a uma casa de shows.”
Ricardo Rodrigues
Presidente da Abrasel
Lei do Silêncio
Ruídos.
Entre 7h01 e 19h, o limite de ruídos é de 70 decibéis; de
19h01 a 22h, 60 dB; de 22h01 a 23h59, 50 dB, e de 0h a 7h, de 45 dB.
Limite.
Após as 23h, a execução de música mecânica ou ao vivo é
proibida no ambiente externo dos estabelecimentos.
Exigência.
Locais que executem música ao vivo ou mecânica devem ter
isolamento acústico que não permita a propagação de ruídos acima do permitido.
Penalidades.
Os infratores estão sujeitos a advertência, multa (de R$ 80
a R$ 10 mil), interdição da atividade e cassação de alvará de funcionamento ou
de licença. Em BH, na ausência de alvará, a multa mínima é de R$ 371,92 e, no
caso de atividade em desacordo com o alvará, de até R$ 4.463,01.
Denúncias.
Podem ser feitas pelo telefone 156, no BH Resolve, no centro
da capital ou no portal da PBH (www.pbh.gov.br).
Lei do Silêncio pode ser alterada
A música nos bares obedece aos limites impostos pela Lei do
Silêncio, que pode ser alterada em Belo Horizonte. Desde 2013, tramita na
Câmara um projeto que pretende aumentar o nível de ruídos permitido na cidade,
o que seria bem recebido pelo setor.
O presidente da Abrasel-MG, Ricardo Rodrigues, disse que a legislação é antiga
e que o ruído normal de uma avenida de Belo Horizonte já supera o previsto pela
lei. Um bar, porém, pode ser multado se produzir o mesmo barulho. O projeto
será tema de audiência pública na semana que vem. (APP e RM)
BAIRRO UNIÃO
Rua Alberto Cintra é alvo de fiscais
Em uma semana, cerca de 50 notificações e autos de infração
e de interdição da atividade de música foram emitidos contra bares da Rua
Alberto Cintra, no bairro União, na região Nordeste de Belo Horizonte. Em
fiscalização iniciada no último dia 20, foram constatadas irregularidades em 19
estabelecimentos.
A fiscalização foi iniciada com o objetivo de atender as reclamações referentes
à poluição sonora, que alcançaram 116 neste ano. No total, oito fiscais
participam da ação, vistoriando os estabelecimentos e conferindo a
documentação. São utilizados aparelhos medidores de decibéis, que verificam se
os níveis de pressão sonora estão em conformidade com a Lei do Silêncio.
Segundo a Regional Nordeste, nenhum bar da rua tem alvará para execução de
música. Dessa forma, os estabelecimentos podem reproduzir apenas música
ambiente, dentro dos limites da legislação. Os valores das penalidades não
foram informados.
Debate.
Quem mora na rua reclama de música alta noite adentro. “Não
queremos fechar nenhum bar, mas precisamos dormir. A situação está
insustentável, com música até 1h da madrugada, de terça a domingo”, disse uma
moradora da rua, que não quis ser identificada. O empresário do ramo hoteleiro
Pablo Ramos, 39, reclamou que já perdeu vários hóspedes por causa do barulho.
“Investimos cerca de R$ 700 mil no isolamento acústico dos quartos, mas não foi
suficiente, e os hóspedes não conseguem dormir”.
Para discutir soluções, cerca de 20 donos de bares se reuniram nessa
quarta-feira (27) com a Abrasel. “Estamos estudando medidas para solucionar a
situação. Os empresários estão preocupados em melhorar o relacionamento com a
vizinhança e com os clientes”, disse o diretor executivo da Abrasel, Lucas
Pêgo. (APP/RM)
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