O Jazz Im Goethe Gartem 2016
chegou ao fim. Terminou com quatro alemães entre momentos quase ambientais e
outros devedores de um noise underground.
Por João Morales; Fotos de Carlos Porfírio (Puro Conceito) |
Num final de tarde com o jardim
repleto, o Jazz Im Goethe Gartem chegou ao fim. Como habitualmente, o último
concerto – o oitavo desta série que nos trouxe músicos portugueses, espanhóis,
suíços, austríacos, franceses, italianos e luxemburgueses – esteve a cargo de
alemães, desta feita, o quarteto Grid Mesh, fundado em 2006. Dois sopros (Frank
Paul Shubert, saxofones alto, e Matthias Müller, trombone, em substituição de
Johannes Bauer, que faleceu em Maio e a quem o concerto foi dedicado), uma
guitarra eléctrica relativamente transformada com efeitos (Andreas Willers, que
ia fazendo as honras da casa) e Willi Kellers (numa bateria segura e
omnipresente).
O concerto começou de forma calma, com os pratos de Kellers a suportarem o cenário sonoro onde a dupla de sopros foi desaguando, ao mesmo tempo que Willers manipulava a sua guitarra, prendendo as cordas ou percutindo-as. Aliás, grande parte do tempo a ideia com que se ficou, foi mesmo essa – o baterista possui um papel central na construção do som deste colectivo, os sopros vão-se impondo de forma sinuosa, como uma autêntica serpente nos areais do deserto… até que damos por nós em momentos de paroxismo, num ambiente algo devedor do noise underground de Nova Iorque (a guitarra fazendo evocar o Arto Lindsay seminal de Aggregates 1-26).
No fundo, o som deste grupo (coeso, mesmo em momentos de destaque de algum dos músicos, sempre um grupo) passa por essa oscilação entre ambientes calmos, devedores de um John Hassell, por exemplo, e essa reivindicação da herança do free jazz, mais patente na “voz” de Frank Paul Shubert, embora sempre com o cariz industrial que encontramos na editora suíça FOR4EARS. Aliás, Paul Shubert já tocou com Günter Sommer, um dos nomes icónicos desta chancela.
O concerto foi construído com uma única peça (cerca de 50m, sem encores), tocada numa ascenção inicial, com momentos mais exultantes, outros mais reflexivos, incluindo um espaço (breve, contudo) quase no final em que Willers nos permitiu ouvir uma guitarra de Jazz, de forma mais tradicional.
Chegados a casa, televisões ligadas, (aparente) Golpe de Estado em curso na Turquia, um dia depois de mais atentado espalhafatoso em França. Também na calma (aparente) deste primeiro quartel do século XXI começam a mostrar-se momentos de ruído, manifestações de desarmonia mais ou menos evidente. Se o Jazz foi a música do século XX, qual será a banda sonora dos dias que atravessamos? Só mais tarde teremos essa consciência. Até 2017, Jazz Im Goethe Gartem.
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