A crise econômica tem sido a vilã
da música clássica brasileira desde o ano passado. Mas não é a única. Para
Clodoaldo Medina, diretor do Instituto Pensarte, “esta crise não parece ser do
setor e, sim, macroeconômica”. Mas, para outros gestores, a crise pode ser uma
oportunidade para rever a organização da área.
Para Marcelo Lopes, do ponto de
vista do desempenho geral da economia, “essa é a mais grave crise dos últimos
tempos, sem dúvida”. Mas ele acredita que as instituições vivem uma “realidade
melhor”, que tem a ver em especial com as novas formas de gestão. E, nesse
sentido, há discussões importantes a serem feitas, uma delas a respeito da
relação entre organizações sociais e governos. “Há que se manter a autonomia de
gestão de forma que se permita equacionamento entre as metas de atividade e os
seus riscos. O modelo foi criado para permitir a construção institucional e não
mera transferência de recursos “, afirma.
Diomar Silveira vai na mesma
direção. “É preciso compreensão da sociedade a respeito do modelo, que permite
a criação de uma orquestra de alta performance, com músicos contratados por
CLT, respeitando a legislação e se relacionando profissionalmente com o poder
público.”
Para Paulo Zuben, diretor da
Santa Marcelina Cultura, são inegáveis os avanços do setor nos últimos anos.
Mas, por isso mesmo, é hora de uma autoanálise. “Uma situação extrema como essa
te obriga a mexer em práticas cristalizadas. Não é só fazer com menos dinheiro,
é repensar a relação entre as instituições, as relações de trabalho dentro
delas, ainda muito verticalizadas, o modo como os projetos se relacionam com a
comunidade, fortalecendo o setor como um todo e fazendo dele não uma vítima do
contexto econômico mas protagonista do seu próprio futuro, inclusive mostrando
às pessoas, com os nossos resultados, como a cultura e o que fazemos são
importantes. A crise existe, mas pode nos ajudar a sair da zona de conforto.” A
relação com a comunidade, por sinal, tem sido fundamental para grupos como as
sinfônicas de Sergipe ou da Bahia, que têm buscado programas alternativos para
seguir se apresentando e se relacionando com as plateias, que ajudam a defender
os grupos.
Sobrevivência, nesses casos, é a
palavra de ordem, na esperança de que o momento atual não deixe sequelas
incontornáveis. “Existe uma indústria cultural funcionando no País, mas falta
financiamento, o oxigênio para que ela volte a operar no nível de normalidade.
O problema de se ficar um longo tempo em apneia é o risco de afogamento”, diz
João Guilherme Ripper. “A cultura é um conjunto de valores simbólicos
fundamentais para a sociedade. Não podemos abrir mão dela sem renunciar
igualmente à identidade e à consciência de nosso lugar no mundo”, completa.
Para Marcelo Lopes, o maior
receio é “que algumas instituições se desestruturem ao ponto de sofrer
problemas de continuidade”. “A perda da confiabilidade no mercado levaria
décadas para ser recuperada. As atividades de formação também necessitam de
longo prazo e continuidade para que sejam efetivas. Há um conteúdo geracional
nesses programas e corremos o risco de perder os resultados de trabalhos
feitos. A recuperação das perdas aqui é bem mais lenta que a recuperação da
economia e das atividades com maior apelo de mercado.”
As informações são do jornal O
Estado de S. Paulo.
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