quarta-feira, 13 de julho de 2016

Jazz Im Goethe Garten: Jimi Hendrix esteja connosco!

Por João Morales; Fotos de Carlos Porfírio (Puro Conceito)



Nesta volta à Europa que é o Jazz Im Goethe Garten, a França portou-se à altura com Journal Intime, um trio que conquistou facilmente a simpatia de todos e homenageou a preceito Mestre Jimi Hendrix.

Uma espécie de orquestra de bolso, poderia ser uma boa definição para este projecto constituído por três franceses, numa conjugação nada habitual. Journal Intime são Sylvain Bardiau (trompete), Frédéric Gastard (saxofone baixo) e Matthias Mahler (trombone).

A aparente ausência de secção rítmica é apenas relativa. Não obstante o papel tradicionalmente atribuído ao baixo e percussão, esse desígnio nunca está em falta na música dos JI, pela intrincada capacidade orquestral que acompanha a desenvoltura dos seus solos. À semelhança de um dos seus álbuns, o espectáculo de ontem centrou-se na obra de Jimi Hendrix, para gáudio da assistência que não lhes poupou elogiosos aplausos.

Tudo começou com Purple Haze. Solos bem estruturados, articulação sólida entre os três, muita alegria e vivacidade – características que acompanharam toda a prestação. Bardiau assina alguns solos potentes, como um momento em que fica sozinho em palco e demonstra uma técnica labial muito própria – toca, espreme, rosna, retira sons profundos do seu instrumento. As honras da conversa foram sendo feitas por Frédéric Gastard (que também terá um momento em destaque com Lover Man, onde parece cantar por debaixo do mantra que debita).

Há espaço para diversas evocações. Se a orgânica de articulação do conjunto pode remeter para o trabalho pioneiro do World Saxophone Quartet, ou até mesmo algumas etapas mais intimistas das formações lideradas por Mike Wesbrook, há momentos em que o tom é de quase Blues ou Funky (muito por “culpa” de Gastard) fazendo vagamente lembrar a Brass Fantasy, de Lester Bowie. Os solos de Mahler (trombonista que tivemos oportunidade ver em 2014, numa das formações do projecto Tower, de Marc Ducret, no Jazz em Agosto) são arrebatados, uma verve que bebe em diversas frentes, incluindo um Gary Valente, quando integrado na Carla Bley Band.

Espaço ainda para lembrar outra lenda, Mr. Bob Dylan, com uma interpretação do seu All Along The Watchtower (e a demonstração das possibilidades acústicas de causar distorção, como explicou Gastard, antes de os seus dois companheiros colocarem os bocais dos respectivos instrumentos frente a frente, quase colados) ou um divertido momento de desconstrução dos instrumentos até ao ponto de tocarem com os bocais (palheta, no caso do saxofone) em If 6 Was 9.

No fundo, uma hora bem passada, música divertida, bem tocada e arrojada. Além disso, o tipo de concerto que pode conquistar adeptos para descobrir mais coisas destes músicos e de outras músicas com eles relacionadas. Aposta ganha.


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