Por João Morales; Fotos de Carlos
Porfírio (Puro Conceito)
Nesta volta à Europa que é o
Jazz Im Goethe Garten, a França portou-se à altura com Journal Intime, um trio
que conquistou facilmente a simpatia de todos e homenageou a preceito Mestre
Jimi Hendrix.
Uma espécie de orquestra de
bolso, poderia ser uma boa definição para este projecto constituído por três
franceses, numa conjugação nada habitual. Journal Intime são Sylvain Bardiau
(trompete), Frédéric Gastard (saxofone baixo) e Matthias Mahler (trombone).
A aparente ausência de secção
rítmica é apenas relativa. Não obstante o papel tradicionalmente atribuído ao
baixo e percussão, esse desígnio nunca está em falta na música dos JI, pela
intrincada capacidade orquestral que acompanha a desenvoltura dos seus solos. À
semelhança de um dos seus álbuns, o espectáculo de ontem centrou-se na obra de
Jimi Hendrix, para gáudio da assistência que não lhes poupou elogiosos
aplausos.
Tudo começou com Purple Haze.
Solos bem estruturados, articulação sólida entre os três, muita alegria e
vivacidade – características que acompanharam toda a prestação. Bardiau assina
alguns solos potentes, como um momento em que fica sozinho em palco e demonstra
uma técnica labial muito própria – toca, espreme, rosna, retira sons profundos
do seu instrumento. As honras da conversa foram sendo feitas por Frédéric Gastard
(que também terá um momento em destaque com Lover Man, onde parece cantar por
debaixo do mantra que debita).
Há espaço para diversas
evocações. Se a orgânica de articulação do conjunto pode remeter para o
trabalho pioneiro do World Saxophone Quartet, ou até mesmo algumas etapas mais
intimistas das formações lideradas por Mike Wesbrook, há momentos em que o tom
é de quase Blues ou Funky (muito por “culpa” de Gastard) fazendo vagamente
lembrar a Brass Fantasy, de Lester Bowie. Os solos de Mahler (trombonista que
tivemos oportunidade ver em 2014, numa das formações do projecto Tower, de Marc
Ducret, no Jazz em Agosto) são arrebatados, uma verve que bebe em diversas
frentes, incluindo um Gary Valente, quando integrado na Carla Bley Band.
Espaço ainda para lembrar outra
lenda, Mr. Bob Dylan, com uma interpretação do seu All Along The Watchtower (e
a demonstração das possibilidades acústicas de causar distorção, como explicou
Gastard, antes de os seus dois companheiros colocarem os bocais dos respectivos
instrumentos frente a frente, quase colados) ou um divertido momento de
desconstrução dos instrumentos até ao ponto de tocarem com os bocais (palheta,
no caso do saxofone) em If 6 Was 9.
No fundo, uma hora bem passada,
música divertida, bem tocada e arrojada. Além disso, o tipo de concerto que
pode conquistar adeptos para descobrir mais coisas destes músicos e de outras
músicas com eles relacionadas. Aposta ganha.
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